A linguagem elegante das cores naturais
Para gostar de cores naturais é preciso ser simples
Cor é para quem gosta de se habitar pelo olhar, para quem vê beleza na luz e procura o que a sombra esconde, no mundo das coisas, no coração e na mente.
A sensibilidade às cores naturais, as que vemos quando abrimos as nossas janelas para todos os dias desta vida, não é para todos. Os elegantes as verão com até suspiros. Nas manhãs, as cores são infantis, cantarolantes e saltitantes. No cedo da tarde são calorosas e energéticas, como a juventude. A noitinha sombreiam o que era forte e decidido na anterioridade. Na noite, cores só se mostram a quem as procurar em silêncio e com olhos apertados e sensíveis a cinzas e pratas. Assim, são as cores para quem pensa em si, no outro, na vida, e se gosta.
Cores naturais não se comunicam por gritos e sobrepondo valores sobre o que está próximo. Cores naturais são para gente sensível, para os que já foram habitados pelo amor e que ainda o querem profundamente, mesmo tendo perdido o poder de decidir quando um outro está implicado. Quem gosta de boa companhia, seja de gente, bicho, paisagem, comida e música bem feita e bem tocada, vinho, água limpa, dos quentinhos e friinhos de dias plenos de presença e vida, gosta das cores da natureza. Elegância é a linguagem das cores naturais, a mesma que aproxima e promove diálogos em voz média, baixa, em silêncios. Cores naturais estão sempre com a tonalidade e tensões corretas.
Plantas se alimentam de luz e se pintam de verde-clorofila nos dias de verão. Na primavera dão o concerto anual em Allegros, Vivaces e Allegrissimos. No Outono se pintam de vermelho, o penúltimo umbral das cores visíveis. Neste tempo, da madureza de folhas e frutos, açúcares e vitaminas, licopenos, carotenos, antocianinas e taninos afloram e subtraem verdes com dourados, vermelhos, marrons e violetas avinhados. É tempo de meditação em banco de jardim, de olhar para o passado com amorosidades. É tempo de mirar o futuro com alegria sobranceira e elegante. É tempo de ternuras, almas quentinhas, de crescimento interior. Se há Allegros, são Ma no tropo.
Inverno é vida com silêncio interior, desafobações e generosidades consigo e com o outro. É tempo de neutras e cinzas, preto e branco, os habitáculos da máxima simplificação. Tempo de sombras escuras transluzidas de laivos, não de facas e raios. É bom tempo para afinar corpo e alma para se tocarem em andantinos, alturas, métricas e velocidades ajustadas à consciência de ter vivido a melhor vida. Que Adagios não tragam tristezas, melhor, ternuras.
Para gostar de cores naturais é preciso ser simples, como uma flor que se desenvolveu em semiose com os insetos. Um precisa do outro, como eu do próximo. Para tingir com os recursos da natureza – plantas, vitaminas e ácidos e taninos, minerais oxidados – é preciso ter amor dentro, é preciso que se não queira o muito do excesso, que seja simples na composição de escalas e famílias. É necessário saber ouvir, cheirar e ver com ternura porque não haverá grandes Allegros e Fugas de cavallerias.
As cores são sutis e poucas se atrevem à vivacidades e primariedades. A redação dos argumentos colorísticos da natureza é cuidadosa e escrita para milênios. A escala é curta, incluindo monocórdios. Nada é absoluto e pleno. Todas as cores deixam entrever outras. São raros os pretos neutros, raros os azuis limpos, poucos os amarelos francos em luz e força, difíceis os vermelhos que não sejam sombreados. Marrons médios e Beges, Violetas silenciosos, Bordôs, Vinhos e Rosas secos são os presentes pródigos. A clorofila é a mais fugaz das cores fugidias dos corantes naturais e Verdes verdadeiros são raros e existem só os Terciários e Quaternários lembrando terras cúpricas e lindas. Poucos são os Azuis, porém decididos nas variedades de plantas da espécie indigofera e nos pretos do no fruto Jenipapo, nos corações das bananeiras e no ferro acidificado. Em suma, há baixa presença de cores Primárias e Secundárias nas famílias de corantes naturais, tudo evolui para as Terciárias e Quaternárias, a região das cores para quem não gosta de sons, tonalidades e cheiros fora da harmonia.
Na natureza as harmonias de alto contraste e brilho estão nos peixes, animais marinhos e nos pássaros. Pouca coisa nos mamíferos. As escolhas de valores devem ser complementadas por cores sintéticas. Cores sintéticas artificiais, utilizadas em processos híbridos, são os violinos, os instrumentos agudos da orquestra das cores naturais.
Tingimentos naturais se explicam na sustentabilidade dos processos fabris, na cultura e na tradição, no mercado de nichos e de baixa oferta das coisas raras. Faltam produtos com a etiqueta mais oportuna e poderosa do mercado voltado para o novo comprador que se insinua hoje e que se firmará no futuro: Produto Elegante, Cores Atemporais, Fabricado com Recursos Renováveis e Processos Eco Responsáveis, Feito à Mão, Peça Única, Arte Assinada.
A economia do mundo de hoje não pode ter seus altos e excessivos volumes suportados somente por tingimentos naturais, principalmente o setor têxtil. Corantes e pigmentos naturais tem presença forte e de alto volume na indústria de alimentos, cosméticos e tinturas de cabelo por serem os únicos que podem tingir corpos, ser ingeridos, tocados e beijados sem danos.